Lorena Villegas é uma designer colombiana radicada na Holanda. Morou alguns anos em Buenos Aires e Paris, lugares onde se inspira muito para criar seus designs. Agora radicada em Amsterdã, ela desenha peças únicas, elegantes e muito femininas para a mulher ativa e moderna.
Pessoas, sustentabilidade e criatividade estão no centro da identidade da sua marca desde a sua criação. Isso a leva a ir contra a corrente do fast fashion e adotou uma abordagem bastante lenta em seu trabalho.
Descubra como ela encontrou essas crenças, as lutas que enfrentou e as lições sábias que surgiram dessas experiências.
Revista Better: Como você começou a desenhar?
Lorena Villegas: Quando criança eu já desenhava roupas para minhas bonecas e fantasias para mim mesma. Sempre fui muito apaixonado por tecidos e desenho, e desde muito cedo ficou claro para mim que tinha que ser designer de moda. Mais tarde, quando terminei o ensino médio, saí do meu país para ir para a Argentina estudar design de moda.
BM: Então você projeta com base nos princípios do upcycling, o que o levou a começar a fazer isso?
LV: Há alguns anos comecei a ter mais consciência do meu estilo de vida, do meu impacto nas alterações climáticas e na sociedade em geral. Quando decidi criar a minha marca, era muito importante para mim ser o mais sustentável possível, e produzir novos itens com tecidos esgotados ou reciclados é a abordagem que fez mais sentido para mim por alguns motivos.
Primeiro, a maior parte da água necessária para a produção de roupas é, na verdade, usada para converter a fibra bruta em tecido trabalhável e durante o processo de tingimento. Nossos têxteis reciclados não requerem mais água além do que foi usado para produzi-los. Ao utilizar tecidos pré-existentes, estamos a manter mais tecidos fora dos aterros, dando-lhes uma nova vida, e evitamos o aumento desnecessário da procura de novos materiais têxteis.
Em segundo lugar, na maioria das vezes compramos estes tecidos na mesma oficina responsável pela produção, gerando, portanto, menos pegada de carbono no transporte.
Como usamos tecidos reciclados, raramente encontramos grandes quantidades de qualquer tecido. Isso significa que muitas vezes só conseguimos fazer algumas peças do mesmo tecido. No final das contas, isso significa menos desperdício, o que também faz parte da sustentabilidade.
BM: Quais foram as dificuldades que você enfrentou ao se tornar um designer sustentável?
LV: A primeira dificuldade foram as quantidades mínimas de pedido que as oficinas pedem para iniciar uma produção. Para iniciar uma produção, as oficinas geralmente pedem pelo menos 200 peças de cada desenho e de cada cor, como quantidade mínima de pedido. Como meu objetivo é evitar qualquer desperdício e porque às vezes alguns designs não vendem bem, nunca estive disposto a cumprir esses requisitos. Felizmente, depois de uma longa e exaustiva investigação, encontrei uma oficina em Portugal, ambas concordando em trabalhar com quantidades menores, e garantindo padrões de qualidade realmente elevados.
O segundo desafio é o alto custo relacionado à produção local, em comparação com outras marcas que produzem em países de baixo custo. Para nós uma marca sustentável, trabalhar com bons materiais, limitar a nossa pegada de carbono e pagar um preço justo a todas as pessoas envolvidas no processo de produção é fundamental. Quando abordados, esses elementos tendem a aumentar o preço de venda das roupas e, portanto, tornam as marcas sustentáveis muito mais caras do que outras marcas.
Infelizmente, isto logicamente torna a moda sustentável menos acessível ao público em geral e muitas pessoas são seduzidas pelas marcas de fast fashion por causa dos preços.
Acho que, como marcas, temos a responsabilidade de mostrar transparência e conscientizar os clientes sobre tudo o que está por trás de uma peça de roupa. É um trabalho árduo e definitivamente um grande desafio para quem está apenas começando, mas é muito importante porque esperamos que mude a forma como as pessoas veem e compram moda.
BM: Por que é importante para você produzir localmente?
LV: A primeira razão para produzir na Europa foi limitar as emissões de CO2 no transporte das peças de vestuário, para o meu atelier e, em última análise, para os clientes. A segunda razão é porque isso permite um controle muito melhor sobre o processo de produção. Esta é a melhor forma de garantirmos que todas as pessoas envolvidas nas produções trabalham em boas condições e são remuneradas de forma justa.
BM: Que conselho você daria a qualquer aspirante a designer?
LV: Precisamos mudar a indústria da moda para que a sustentabilidade e a ética se tornem a norma, e não a exceção. Nós, designers, somos artistas e nossos designs fazem parte de nossa alma e inspiração. Mas temos que ter em mente que eles também se tornam peças de vestuário, com as quais muitas pessoas se identificarão, e essa é uma oportunidade incrível de usá-los também como veículos de nossos valores. Os valores são parte fundamental de uma marca e são o que deixa marca na sociedade: não devem ser subestimados!
Você pode encontrar mais informações sobre o processo de produção de Lorena aqui:
https://lorenavillegas.com/about/slow-fashion/